O MITO DE FIM DE ANO

 Estamos chegando a mais uma virada de ano e já começamos a perceber a volta de um velho mito.  
As mudanças de calendário criaram na humanidade um raciocínio linear sobre a vida. As pessoas acham que com a simples mudança de dia as circunstâncias mudarão. Com a virada de ano o sentimento acaba sendo o mesmo; muitos acreditam que a mudança de ano mudará as situações. Vivemos uma verdadeira neurose coletiva gerada por slogans comerciais que formam e deformam nossa sociedade. “Ano novo, Vida nova” é um bonito slogan, mas quando cai na malha da realidade perde completamente o seu valor e veracidade.
Achamos que a virada de ano tem poder para mudar o rumo da história. Cremos, de maneira equivocada, que a mudança de calendário traz em si certa dose de magia, como se fosse um “abracadabra” para novos tempos. A mudança no calendário não muda as circunstâncias da vida. Nela não há unção, magia ou poder. Agenda nova não significa vida nova. A virada de ano não deleta o passado, a vida continua como antes. Triste cantiga... Pura realidade...
Não quero estragar a festa com meu realismo, também não desejo ser visto como estraga prazer. Apenas gosto de pisar em terra firme, evitando viver de ilusão. Talvez seja até tachado de chato mexendo no encanto da virada, mas espero que minha chatice nos faça refletir antes de agir.
Como pensador gosto de olhar para a realidade, partindo da realidade. Quando afirmo que a simples mudança de calendário não altera a vida, creio não estar “chovendo no molhado”, pois, estas datas sempre têm a tendência de mexer com as nossas emoções. Ficamos mais sensíveis e vulneráveis com a expectativa da chegada de um novo ano. Vivenciamos uma esperança infundada a cada final de ano.
Precisamos reconhecer duas verdades fundamentais para não nos tornarmos vitimas do mito de fim de ano: A primeira verdade é que passagem de ano não é universal, mas regional; Os muçulmanos comemoram em meados de abril, os chineses no dia 17 de fevereiro, os Judeus festejam em meados de setembro, e para nós brasileiros e em outras partes do mundo a virada é em dezembro; a segunda verdade é que Deus não se movimenta a luz de nossas convenções humanas. O nosso calendário não dita o ritmo das ações celestes. No céu não tem dia 31 de dezembro. Lá não existe passagem de ano. Os anjos não usam roupas brancas e nem desejam um ao outro um feliz ano novo. Deus não irá nos abençoar só porque será o início de uma nova etapa. A vida continua como antes...
Um ano novo certamente reservará novas oportunidades na vida. Vivenciaremos momentos propícios para a restauração nos relacionamentos, para galgar estágios maiores na sociedade, para conquistar grandes realizações e além de tantas outras coisas, poderemos desfrutar mais da presença de Deus. As oportunidades acontecerão, mas a questão central é o que faremos com as novas oportunidades. Como reagiremos diante da vida no ano novo; perpetuaremos hábitos e costumes que foram destruidores no ano que se finda? Continuaremos exigentes, ranzinzas, pessimistas e mal humorados em meio às circunstancias?
Se as atitudes forem velhas e ultrapassadas, desconectadas da nova realidade, os problemas continuarão e se proliferarão. Não vamos deixar que o mito do fim de ano determine nossas expectativas e emoções. Vamos entrar nesse novo ano com vontade nova e atitudes novas, pois só assim podemos esperar de fato um feliz ano novo. 

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