A PARÁBOLA DOS DOIS CRENTES DESEMPREGADOS

Certa igreja evangélica possuía dois crentes integrados e queridos por toda a comunidade religiosa.  No mesmo mês os dois ficaram desempregados; como eles eram casados e tinham filhos e muitos compromissos, todos os irmãos se envolveram em uma rede de oração por eles. A igreja orava nos cultos dominicais, nos cultos do meio de semana e nos grupos nos lares, pois a situação dos dois ficava cada vez mais delicada.
Certo domingo um deles pediu a oportunidade para dar um testemunho publico e compartilhou que Deus o havia abençoado com um excelente emprego. Toda a igreja celebrou dando glórias a Deus e o pastor aproveitou para falar e exaltar o cuidado divino. O outro irmão ficou calado ouvindo o testemunho; sua mente não teve como não entrar em um processo de reflexão involuntária. Ele foi tomado por pensamentos do tipo: Se Deus o abençoou com um emprego, por que não me abençoa também? O que será que ele fez para Deus abençoá-lo, que eu deixei de fazer? No que será que estou errando? Se Deus o abençoou, será que ele está me amaldiçoando, me deixando passar por privações, já que o oposto de bênção é maldição, conforme me ensinaram aqui na igreja? Então... Por que Deus estaria me amaldiçoando? Mas... Deus amaldiçoa?
Em meio a esse turbilhão de questionamentos, reforçado pela atitude da igreja em exaltar constantemente a bênção de Deus sobre a vida do outro irmão, aquele crente acabou naufragando em sua fé e se afastou da igreja. Todo esse quadro foi reforçando ainda mais as visões da comunidade religiosa sobre o longo período de desemprego dele. Como as pessoas estão sempre procurando uma causa objetiva para os aparentes fracassos, pensavam: ou Deus o está disciplinando; ou ele deve estar em pecado, ou sua fé é muito fraca. Pensavam ainda: se ele voltar para a igreja, Deus o abençoará!  Devido a essa postura de julgamento, nem sempre declarada, mas demonstrada pelas atitudes, a igreja apenas reforçou naquele homem os questionamentos negativos sobre a vida cristã, Deus e a igreja.
A teologia e a prática daquela igreja foram matando a fé e a esperança daquele homem, até um dia que ele encontrou uma comunidade que o reanimou em sua fé. Ali ele foi aprendendo que a bênção de Deus não está naquilo que ganhamos ou conquistamos e, a maldição também não está no que perdemos ou deixamos de conquistar. Emprego ou desemprego, saúde ou doença, riqueza ou pobreza, acolhimento ou abandono não definem bênção ou maldição. As circunstancias, sejam elas boas ou ruins, são meios através do qual Deus quer revelar o seu amor por nós. Estar empregado ou desempregado pode ser bênção ou maldição, tudo dependerá da percepção de cada indivíduo diante das circunstâncias. 
O desempregado acabou ficando naquela comunidade por perceber que a teologia e as atitudes reforçavam o seu valor como objeto do amor eterno de Deus, independentemente das circunstâncias do momento. Aprendeu que bênção e maldição, como ele havia aprendido, estão mais na cabeça da igreja do que propriamente no coração de Deus. 

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